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Capítulo Três - O Olhar

Pedro chegou à empresa com cinco currículos selecionados e, tendo avisado à secretária que chegaria um pouco atrasado, os candidatos o aguardavam. Para esse cargo era necessário alguém de confiança. O futuro empregado seria o novo advogado da empresa, informações importantes seriam passadas e até alguns segredos.

Para exercer essa função, teria que ouvir muitos problemas, vindo de todos os funcionários e teria que ser imparcial. Ele estaria ali para ajudar a resolver os problemas e, principalmente, ajudar os problemas jurídicos. Alguns funcionários costumavam processar a empresa com alegações sem sentido.

Os cinco aguardavam na sala de espera, passou por eles sem lançar nenhum olhar para não comprometer na escolha. Sentou-se, fechou os olhos, precisaria de muita concentração, pegou novamente os currículos e analisou-os mais precisamente. Não poderia haver nenhum erro na escolha.

Mandou chamar o primeiro candidato. Este entrou muito falante, assustando-o, algumas perguntas foram feitas, alguns testes de possíveis situações. Um a um os candidatos foram entrando até que chegou a vez do último, ou última, candidato. Pedro analisava o currículo e não percebeu sua chegada.

A candidata se sentou sem fazer barulho, não pretendia incomodá-lo. Ficou ali observando e aguardando o momento em que seria dado início a entrevista. Pedro estava distraído, aquele currículo que analisava era muito bom, tinha boas experiências e bons diplomas.

Levantando o rosto, após algum tempo, deparou-se com uma belíssima moça. Seus cabelos negros como a noite caiam sobre seus ombros, em seus lábios rosados como a pele de um bebê refletiam um sorriso contagiante, mas foi em seu olhar que Pedro prendeu a atenção. Seus olhos eram claros como o céu no verão e penetrantes. Olhava-o fixamente, parecia estar penetrando sua mente.

Aqueles olhos o distraíram e deixaram-no nervoso. Tentava desviar a atenção para qualquer outra parte da sala, mas era impossível. Os olhos azuis pareciam estar chamando-o. Eram lindos, a candidata, só pelos olhos, falava muito de si. Seus olhos tinham um ar autoritário, mas ao mesmo tempo uma presença doce.

A entrevista começara, sua prontidão em responder agradara, as respostas, entre os cinco, eram as melhores, sem dúvida, este era o melhor candidato. Despedindo-se, acompanhou a moça até a porta de sua sala e informou-a que entraria em contato, todos os candidatos já tinham ido.

Fechou a porta e voltou a sentar-se. Seus pensamentos estavam naquela mulher e em seu olhar misterioso e penetrante. Em sua sala, atrás de sua mesa, a parede era toda em vidro, virou-se para esta parede, e ficou observando o céu, mas aquilo só fazia-o lembrar dos lindos olhos azuis. O céu estava limpo e azulado. Olhá-lo era como olhar os olhos daquela moça.

Chamou Marta, sua secretária, para juntos escolherem o novo advogado da empresa. Confiava muito na opinião dela e ela ajudara na escolha de muitos funcionários, os considerados os melhores. Marta sempre foi muito eficiente e companheira, sua opinião era importantíssima. Pegou os cinco currículos e entregou-a, enquanto ia analisando, Pedro contava um pouco de como fora as entrevistas. Comentou as resposta, as situações propostas a serem resolvidas e quais tinham sido melhores em cada etapa da entrevista.

Depois da primeira análise, mostrou sua opinião. Revelou que gostara mais da última candidata, pois mostrara-se ser a mais eficiente e a mais qualificada ao cargo, depois falou em seu remorso em contratá-la. Marta não compreendera: como uma excelente advogada teria problemas ao ser contratada?

Pedro suspirou e decidiu contar toda a verdade, pois aquela escolha comprometeria toda uma instituição. Ao ver aquela mulher, sentiu uma enorme atração, seu olhar havia penetrado-o, sentia medo em contratá-la, pois as pessoas poderiam pensar que aquela contratação só havia ocorrido por causa de seus desejos. Mesmo sendo a melhor, sua presença naquele local provocaria seus desejos e até poderiam distraí-los ou lavá-lo a fazer alguma escolha erradamente.

Marta, após ouvir e analisar a situação, achou melhor contratá-la. Era a melhor, aquela atração foi momentânea, talvez, com o encontro diário, aquilo passaria. Os homens sentem desejos ao ver mulheres bonitas, mas acaba sendo somente naquele momento, ou durante certo período, mas logo passa. Pedro aceitou o conselho de sua secretária, talvez ela tivesse razão, aquilo foi algo do momento e não mais iria acontecer.

Marta voltou ao seu posto e Pedro decidiu começar as ligações. Esperou mais uma hora passar para dar tempo de todos chegarem a suas casas. Ligou para os quatro candidatos não aprovados agradecendo por terem ido e informando que não tinha sido daquela vez, mas haveria outras oportunidades. Guardaria o currículo dos candidatos rejeitados para quando um fosse precisar ou para entregar a companheiros de profissão. Agora só faltava o último telefonema, o mais importante e o que mais o deixava nervoso.

Com o telefone ainda na orelha, discou os cinco primeiros números, mas desistiu. O nervosismo tomou conta. Falar pelo telefone parecia ser mais difícil do que falar pessoalmente.

Apesar de estar falando pelo telefone, suava frio, quando a moço atendeu seu coração acelerou. Sua voz doce como o mel parecia cantar em seu ouvido. Parabenizando-a, pediu que viesse no outro dia, às oito horas para uma nova entrevista, mas seria uma entrevista casual, somente para passar informações. Desligando o telefone, não conseguiu mais concentrar-se, todos os seus pensamentos estavam naquela mulher, em seus olhos, seu cabelo, sua voz.

Passou o resto daquele dia lembrando-se do momento em que encontrou-se com a mulher. Quando fechava os olhos via aqueles olhos azuis, ao abrir, para tudo que olhava, lembrava-se deles. Ligou para Marta e pediu papeis para serem analisados e assinados, tinha que fazer algo para distrair. Não teve sorte, todos os papéis tinham sido entregues. Abriu as gavetas atrás de algum que deixara passar, tivera sorte, havia um.

Mais uma vez virou-se para a parede e ficou observando. A cidade, vista daquele ângulo, parecia tranquila. Apesar da certa altura em que estava, conseguia ver muito bem o que as pessoas faziam lá embaixo, mesmo aquele que tentavam se esconder para isso. Devido ao cansaço da noite que não conseguiu dormir, cochilou.

Aquele dia, aparentemente, seria o mais tranquilo, tornou-se o mais difícil, tudo por conta de uma mulher. Uma mulher que impressionou-lhe muito. Uma mulher que mexera com seu coração. Apesar de só terem falado de negócio, parecia terem falado sobre várias coisas e aquilo tudo impressionou Pedro.

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