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Capítulo Dezoito - O Pedido | Parte 1

Pedro voltou para casa naquele dia muito feliz, os momentos passados com Ana o divertiu. Relembrar aqueles momentos despertou o início de uma amizade. Em rápido almoço conseguiu conhecer um pouco mais sobre sua colega de sala e quanto havia mudado nesses anos de separação. Ficaram de marcar mais um encontro, não queriam parar por ali, Ana teria que ver quando seriam seus plantões e quais dias estaria livre. Para Pedro seria mais fácil encontrar um dia livre.
Antes de entrar em casa, Pedro pegou suas correspondências, indo até a entrada, olhou os remetentes. A maioria, como de costume, eram contas e propagandas, mas uma chamou-lhe a atenção. Uma nova carta de sua mãe. Diferente da primeira, a letra no envelope parecia tremida, como se tivesse sido escrita as pressas. Entrou em casa e colocou os envelopes com contas em uma mesinha, para no outro dia pagar, a da sua mãe levou até o quarto, preferia ler em um local tranquilo.
Deixando a carta em cima da cama, foi tomar seu banho. Enquanto banhava-se, pensava na carta, um simples pedaço de papel fez-lhe esquecer o momento passado com Ana e esqueceu também de ligar para ela como haviam combinado. Molhando o corpo sua mente despertou para o passado. Toda vez que recebia algo de sua mãe suas lembranças perturbavam. Qual seria o conteúdo daquela carta?
Saindo do banheiro já pronto para dormir, ouviu Nathan chegar. Pegou a carta, virou-a e revirou, não tinha certeza se queria abri-la. Desceu para encontrar-se com o amigo, após também tomar banho, os dois jantaram. Pedro permaneceu calado, seus pensamentos estavam naquela carta em seu quarto. Nathan percebeu seu amigo um pouco incomodado, mas respeitou-o. Como não falava nada, preferiu também não falar.
Em silêncio se retirou. Voltando ao quarto, pegou o envelope, preparou-se para rasgar, mas pensou melhor e desistiu. Ouviu Nathan subir, ficou calado para o amigo pensar que ela já dormia. Com a carta em suas mãos olhava pela janela. Seus pensamentos eram a sua infância. Sua mãe fechara os olhos para ele, agora tentava uma reaproximação, mas por quê? Deixando a carta em cima da mesa, deitou-se e dormiu.
Antes mesmo de o sol nascer, Pedro já estava de pé. A noite não foi muito boa, com poucos momentos de sono. Acordara várias vezes perturbado com o conteúdo daquela carta. Quando decidia abrir, as lembranças voltavam, por que tinha que ser tão difícil? Desceu, em silêncio, indo até a cozinha, preparou seu café da manhã e deixou o de seu amigo pronto. Pegou um pedaço de papel, escreveu um bilhete, explicando a Nathan que tinha ido à empresa mais cedo, pois antes passaria em outros lugares.
Com todos os envelopes na mão, inclusive o de sua mãe, saiu de casa sem rumo. Dirigia perdidamente, tudo parecia recomeçar. Passando pelas ruas vazias, algumas com as lojas ainda fechadas, pensava em toda sua vida. Deseja ter seu pai por perto, queria alguém para conversar, não gostaria de preocupar Nathan com mais esse problema e Marta tinha muitos problemas em sua casa. Seu pai fazia muita falta.
Chegando à empresa, ainda fechada devido ao horário, estacionou seu carro e foi para sua sala. O silêncio tomava conta do local, este só tinha duas pessoas, Pedro e o vigia. Aquela tranquilidade ajudou-o. Aquela paz no ambiente tirou todos os seus pensamentos, deixando os envelopes em cima da mesa, sentou e virou-se para a parede de vidro. Encostou a cabeça no encosto da cadeira, o silêncio trouxe algo, o sono perdido.
Longe ouvia uma batida, parecia ter alguém lhe chamando, quem seria? Na escuridão via um vulto, seria esse quem lhe chamava? Tentou ver quem era, mas estava difícil por causa da falta de luz. O vulto ia afastando-se, tentou ir atrás, mas quanto mais tentava, mais ficava distante. A batida ficou mais forte até que abriu os olhos. Percebeu que estava dormindo, a batida vinha da porta de sua sala. Marta o chamava.
Levantou-se para abrir, a porta estava trancada, trancara para não ser incomodado. Abrindo-a, viu Marta, parecia nervosa por estar a algum tempo ali. Ao vê-lo, ficou mais calma. Olhou-o dos pés à cabeça procurando algo que estivesse errado. Por ter passado tanto tempo dentro daquela sala sem responder, algo de ruim tinha acontecido.
- Que susto você me deu. Pensei que algo tivesse lhe acontecido.
- Eu só estava dormindo.
- Há mais de uma hora eu cheguei e venho tentando falar com você.
Uma hora? Pensou. Ficou mais de duas horas dormindo, àquelas horas foram bastante preciosas. Compensou a noite mal dormida. Seu corpo ainda estava pesado por ter acabado de levantar, ficara com preguiça até mesmo de falar.
- O que você quer?
- Nada. Quando cheguei soube que você já estava aqui. Fui à sua sala, mas estava trancada, você não costuma trancá-la. Achei que tivesse acontecido alguma coisa ruim. Você anda se drogando?
- O que?! De onde você tirou essa ideia?
- Desculpe-me, mas nunca se sabe. Você chega cedo e fica trancado na sala. O que queria que eu pensasse?
- Que eu tive uma noite péssima e vim até aqui para tentar recuperar a noite de sono.
- Desculpe-me mais uma vez. Você está com algum problema? Quer me contar?
- Não… Na verdade estou, mas não quero deixá-la preocupada com mais problemas meus.
- Desde que Nathan chegou você não me conta mais nada, agora tudo é o Nathan.
Pedro riu.
- Está ficando com ciúmes... A propósito, quando ele chegar, peça que venha a minha sala.
- Não estou dizendo?!
E saiu chateada. Pedro achou tudo aquilo engraçado. Não havia passado muito tempo, Nathan apareceu em sua sala. Sua expressão era de preocupação, Marta parecia ter comentado algo com ele e isso deixara-o nervoso. Entrou na sala olhando seu amigo também dos pés à cabeça, algo de errado deve ter acontecido.
- What’s up?
- Aconteceu alguma coisa?
- Isso quem deveria pergunta era eu. Marta comentou que você chegou cedo à empresa, ela suspeita que você esteja usando drogas. Existe alguma possibilidade?
- De onde Marta tirou essa ideia?! Agora era ela não me deixará em paz enquanto não tiver certeza de que eu esteja usando drogas.
Nathan riu.
- Não está acontecendo nada, na verdade está, mas não tem nada com droga. Por isso chamei-o aqui. Daria para você me acompanhar hoje no almoço?
- Claro. Por quê? Aconteceu alguma coisa grave?
- Espero que não. Tenho que contar-lhe algo.
- Você não quer conversar agora?
- Prefiro na hora do almoço. Se eu lhe falar agora, não conseguirei mais trabalhar hoje.
[...]

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