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Capítulo Dezoito - O Pedido | Parte 2

[...]
Nathan saiu da sala preocupado. Ficou pensando em milhares de coisas terríveis que poderiam ter acontecido com Pedro. Pedro sentou, pegou os papéis que Marta deixou para serem assinados, leu-os antes, e assinou. Terminado esta tarefa, pegou a carta. Estava ficando curioso para saber o conteúdo dela, se fosse ler agora, poderia atrapalhar, dependendo do que estava escrito, todo seu desempenho naquele dia. Achou melhor esperar mais um pouco.
Ligou para Marta perguntando o que estava agendado para a manhã, respondeu-o dizendo que não tinha nada além daqueles papéis. Por só haver isso, e ele já ter feito, decidiu ir pagar as suas contas pessoais e aproveitou para levar as contar que tinha chegado da empresa. Feito o pagamento, que foi muito rápido, voltou à empresa, agora todo o tempo estava livre para ler a carta.
Chegando a sua sala, mais uma vez ligou para Marta, pediu para ela não deixar ninguém incomodá-lo. Sentou, pegou o envelope, rasgou-o e tirou a carta de dentro. Da mesma forma como no envelope, a letra estava tremida, algo de ruim tinha acontecido, sua mãe sempre possuíra uma letra belíssima, mas nesta carta não parecia ter sido ela quem escreveu.
- Marta. Provavelmente demorarei aqui na minha sala, só fale comigo se for algo urgente. Se possível, resolva tudo.
- Aconteceu alguma coisa, eu sei. Fale comigo, por que você está escondendo de mim.
- Depois conversamos, agora preciso ficar um tempo só, sem ser interrompido. Depois vamos conversar, eu prometo.
Desligando o telefone, pegou a carta e começou a lê-la. Tinha razão, algo de ruim acontecera.

Meu filho querido!
Enquanto escrevo esta carta meu coração está partido. Não consigo mais derramar uma lágrima do tanto que chorei. Não tenho mais forças para continuar, preciso muito de você aqui comigo. Da última vez que escrevi-lhe, tudo ia bem, mas agora o mal aconteceu.
Seu pai vinha sentido-se fraco, sua coloração foi mudando. Quando íamos ao médico, este dizia que estava tudo bem. Mas aquilo tudo piorou, juntei todo o dinheiro que tinha para ir ao hospital da cidade vizinha. Após vários exames descobriu-se que ele está com leucemia.
Meu mundo caiu, estou sem chão, preciso de alguém ao meu lado. Os médicos disseram se ele não fizer o mais rápido possível o transplante, ele morrerá logo. Isso não pode estar acontecendo de novo comigo. Quantos maridos terei que enterrar ante de morrer?
Preciso de você ao meu lado, estou desesperada. Fiquei sem dinheiro, tudo o que tinha usei para levá-lo ao hospital, não foi mais de uma vez. O dinheiro que ele ganha só dá para pagar as contas de casa. Nossos vizinhos estão nos ajudando muito, mas a situação financeira deles não é diferente da nossa.
Não estou querendo mais do seu dinheiro, só estou querendo seu apoio. Precisamos achar um doador, não sou compatível. Penso em suicídio se ele morrer, perdoe-me filho se fiz-lhe algo de ruim, perdoe seu pai, ele precisa do seu perdão para continuar vivendo.
Estarei lhe aguardando, sei que você virá, você tem bom coração. Até breve!

Pedro não sabia o que fazer, seus olhos encheram-se de lágrimas. Amassou o papel. Durante muitos anos os dois passaram sem nunca mais se falar. Há um pouco mais de um ano ela lhe manda uma carta, agora manda outra pedindo sua ajuda, mesmo depois de tudo que aconteceu. Aquela decisão seria a mais difícil de sua vida.
Releu a carta mais algumas vezes. Não conseguia entender. Não se importou com ele durante tantos anos, agora quando mais precisava, pedia sua ajuda. Passava a mão na cabeça, foi bombardeado pelas lembranças. Queria gritar, mas sua voz estava silenciada. Chorava, sentia raiva. Sua cabeça doía, virava-se, olhava, da sua sala, para baixo. Para todos os lugares que olhava, as lembranças vinham.
O telefone da sala tocou, não queria atender, preferia ficar ali com seus pensamentos. Parou por alguns instantes, parecia ser algo urgente, passou a ordem para só ser incomodado se fosse algo urgente. Colocou a mão em cima, mas parou novamente. Marta não insistiu mais, então não seria urgente, ou poderia esperar.
Levantou-se com a carta na mão, saiu ligeiramente de sua sala, Marta, ao vê-lo passar, tentou chamá-lo, mas ele ignorou. Chegando ao elevador, viu que mais pessoas iriam usar, então desceu pelas escadas, queria ficar sozinho naquele momento. Pegou o carro e saiu da empresa em alta velocidade, todos na rua ficaram assustados. O que estava acontecendo?

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