Pular para o conteúdo principal

Capítulo Dez - A Festa

Pedro, ao longo dos meses, recuperava-se. Frequentava, regularmente, a fisioterapia, seus ossos estavam se fortalecendo e não precisava mais das muletas para andar. Aos poucos foi deixando-as, passou para uma bengala até que não mais precisou de nada. Com o apoio de Marta sua recuperação tornou-se possível, esteve ao seu lado e deu-lhe forças para prosseguir, tinha muito a agradecer.
Antes de o acidente acontecer, vinha planejando uma festa para sua amiga, agora, mais do que nunca, deveria colocar seus planos em ação. No dia anterior, combinou, com todos os funcionários, para não falar nada sobre a festa, pretendia fazer uma surpresa. Cumprimentá-la pelo aniversário estava liberado. A intenção era fazer-la achar que Pedro tinha esquecido.
No dia esperado, a empresa contratada para realizar a festa dirigiu-se, em segredo, até o salão. Todos os funcionários, sabendo do horário marcado, na hora do almoço, foram, sem fazer barulho, ao local da festa. Pedro, como de costume, saiu de sua sala para almoçar e convidou Marta. No início recusou, mas após tantas insistências, acabou cedendo. Devido a alguns afazeres, pretendia ficar ali mesmo e adiantar seus serviços.
Ao aproximar-se do salão, Pedro pediu que esperasse um instante, teria que falar com uma pessoa. Deixou-a esperando por alguns instantes, estava ficando cansada, o horário de almoço ia diminuindo. Pensou em ir atrás dele, mas pensou duas vezes e achou que ele não gostaria de ser interrompido, poderia ser algum segredo. Tentava olhar na esperança de ver com quem ele conversar, mas onde estava não tinha muita visão.
- Marta! Acho melhor você ficar aqui comigo, vai demorar um pouco.
Marta, a principio, achou a atitude estranha, primeiro ele a convida para almoçar, depois inventa uma “reunião” na hora do almoço. Apesar disso, decidiu acompanhá-lo, pelo menos acharia um local para sentar e relaxar. Para sua surpresa, ao colocar os pés dentro do salão, ouviu um enorme grito:
- Surpresa!
Sua emoção era tremenda, não conseguiu conter as lágrimas. Todos os funcionários estavam ali, sabia o quão difícil era parar uma empresa e Pedro fizera isso para comemorar seu aniversário. Benedito, seu marido, estava na frente da multidão segurando um buque, ao entregar, beijou-a.
Passado o susto, entrou, completamente, e cumprimentou a todos. Estava muito feliz e não conseguiu expressar essa felicidade, por isso apenas ria. Quase todos levaram presentes, roupas, bolsas, sapatos, objetos domésticos, dentro outras coisas. Nunca havia recebido tanto presente em seu aniversário. Aquela era a maior festa de aniversário que recebera, talvez a única que pudesse ser considerada como tal. Durante toda sua vida tinha apenas “bolinho” para comemorar a nova idade.
Após um tempo de música rolando, conversas e piadas, Pedro foi até o palco e pediu para parar a música. Pegou o microfone, os funcionários assobiavam e batiam palmas, estavam eufóricos. Após alguns minutos, consegui fazer com que todos se calassem, sentaram e pararam para escutar. Marta, ao vê-lo indo para frente, ficou assustada, tentando imaginar o que ele estava pretendendo.
- Marta! Hoje é um dia muito especial para você e para mim. Nesse dia nasceu uma grande pessoa, uma grande mulher. Mulher guerreira, batalhadora que não desiste de seus sonhos e corre atrás deles.
Marta ficou mais emocionada, não esperada tudo aquilo, agarrada aos filhos e ao marido, chorou. Benedito pegou um lenço e entregou-a, mas foram necessários mais, eram muitas as lágrimas derramadas.
- Esse tornou-se um ano muito difícil para mim, se não fosse por você teria desistido. Quando nos conhecemos e passamos a conviver, considerava-a apenas uma amiga, depois passei a considerar uma irmã. Mas o tempo passou e agora vejo você como uma mãe. Uma mãe que não abandona seus filhos e luta por eles. Uma mãe capaz de tudo, até morrer por seus filhos.
Agora não conseguia mais se controlar, chorava como criança, seus filhos, ao vê-la chorando, choraram juntos. Benedito, apesar de tentar ser forte, ficou com lágrimas nos olhos e apertava mais forte sua esposa e filhos. Não só a família se emocionara, todos os funcionários ficaram com lágrimas nos olhos, alguns estavam chorando.
- Esse acidente mostrou-me o quanto você me ama e que estará ao meu lado, não importa o que aconteça. Sempre serei grato a você e a sua família. Por durante tantos anos trabalharmos juntos, por você me dá forças e não me abandonar e, claro, por seu aniversário, eu entrego meu presente.
Enfiou a mão no bolso, todos ficaram surpresos, imaginaram ser algo pequeno, pois cabia em seu bolso. Mas a surpresa de todos os presentes foi maior quando retirou uma chave de um carro. O comentário foi geral, o local ficou barulhento, todos não conseguiram se conter. Ganhara um carro, aquele fora o maior presente que recebeu e o maior presente que Pedro já deu alguém. Passado o barulho, Pedro voltou a falar:
- Esta é a chave do seu carro novo que está lá fora lhe aguardando. - Todos aplaudiram euforicamente. - Obrigado.
Pedro desceu, entregou a chave e deu um forte abraço em sua amiga. Como combinado, à tarde não haveria trabalho, aquele dia seria dedicado à Marta, grande amiga e secretária nas horas vagas. Todos se divertiam e comiam, aquele dia, além de comemorativo, ajudou na união dos funcionários. Trazendo, assim, grandes bens à empresa.
Como aquele foi um dia de folga, aos poucos os funcionários foram embora, poucos os que ficaram até o final. No fim da tarde, ficaram apenas Pedro, Marta e sua família, Sônia e mais uns cinco. Como eram poucos, todos se juntaram e ficaram conversando enquanto a música era tocada. Os filhos de Marta estavam muito cansados e dormiram ali mesmo.
- Pedro! Muito obrigada por tudo isso.
- Você não precisa me agradecer, eu quem deveria estar agradecendo. Todos os dias eu deveria lhe dar um presente. Todos os dias você é uma vitoriosa.
- No meu emprego antigo, a secretária não era tão eficiente quanto você. Parabéns, não só pelo aniversário, mas por seu incomparável trabalho.
- Obrigada Sônia! Você está sendo gentio, estou apenas fazendo meu trabalho.
- Se todos fizessem como você… – indagou Benedito. – Você nos deixa de lado para fazer alguma coisa da empresa.
Todos riram. Marta pediu desculpa com um beijo em seu marido. Dedicava muito tempo ao seu trabalho. Fora educada para dar o melhor de si, vinha de uma família pobre, então tinha que aproveitar todas as oportunidades e agarrá-las. De todos os seus parentes, era a que melhor vivia. Tudo graças ao seu eficiente trabalho.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crianças São Sempre Professores

Sexta e sábado, quase o mesmo dia. Os dois estão tão ligados que as atividades acabam se misturando. A manhã da sexta foi o momento de colocar a infância de volta a atividade. Jogar alguns clássicos do eterno Super Nintendo alegra qualquer pessoa que cresceu com esses jogos. Cada botão apertado é como um clique para o passado, relembrar quando me reunia com meus amigos para brincar nas mais diferentes aventuras. Infelizmente as horas logo passaram e não poderia mais estar usufruindo daquele período de diversão da minha infância. Era necessário me preparar para trabalhar. Uma das vantagens da sexta é saber se que seu período de trabalho é mais reduzido de que os demais dias da semana. Era apenas necessário sobreviver algumas horinhas para então poder já desfrutar do final de semana. Uma conversa aqui, outra ali, faz muito bem trocar ideias com pessoas que sempre fizeram parte das nossas vidas, e, claro, isso ainda dá a impressão de que a hora passa mais rápido. Aos poucos o sol v...

Capítulo Três - Encontro de Amor

Após duas noites, finalmente Pedro conseguiu dormir. Era muito bom poder relaxar e descansar de tudo. Apesar de durante a noite acordar assustado com os pesadelos, aquelas poucas horas de sono já tinham sido suficiente para mantê-lo mais ativo. Mesmo tendo combinado com seus pais, nunca mais tinha entrado em contato com eles, havia se trancado em casa, isolando-se do mundo. Às oito horas da manhã, sua mãe sempre ligava, porém, ele não atendia. Contudo, devido a estar mais relaxado, quando o telefone tocou, não sabia o que fazer. Tinha medo de não ser sua mãe dessa vez e ter que encarar a realidade. Nesses dois dias havia faltado no trabalho e alguns companheiros também costumavam ligar para saber onde ele estava. - Alô? - Filho? Graças a Deus você atendeu! - Oi mãe. - Meu filho, como você está? - Estou bem, hoje estou melhor, talvez eu passe aí na sua casa ainda hoje. - Fico feliz em ouvir isso, venha, precisamos conversar, você precisar sair, levar sol, ar puro, se não ficará mais doe...

Acabou 2018 | Retrospectiva #BoriláTV