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Capítulo Nove - A Volta

Pedro passou alguns meses na casa de Marta antes de retirar todo aquele gesso. Foram dias úteis para reflexão e para passar com os filhos de sua amiga. Juntos aprenderam muito, até sentia vontade de ter seu próprio filho. Como não podia fazer tarefas domésticas, ajudava com dinheiro para comprar a feira, até mesmo pagando contas atrasadas.
Passar aquele dias na casa da amiga foram muito emocionantes. Além de conviver e conhecer Marta, passou momentos de perigo. Durante uma noite, ouviu vários tiros, pessoas gritando. Quando colocou o rosto para fora da janela, viu um grupo de pessoas, e o bandido solto, em um tiroteio. Parentes do bandido gritavam pedindo para parar, mas os disparos só chegaram ao fim quando o mesmo levou o tiro da morte. Em poucos instantes a rua ficou repleta de pessoas para ver o que tinha acontecido. Seus antigos comparsas, e autores dos disparam, correram ao ver que tinha concluído o que vieram fazer. Toda aquela movimentação durou quase a noite toda.
Finalmente havia chegado o dia marcado para retornar ao hospital e livrar-se do gesso. Arrumou-se logo cedo, pois não havia horário marcado, a hora que ele chegasse, provavelmente, seria atendido. Benedito teve uma folga para levá-lo junto com Marta, ambos trabalham na empresa de Pedro. A folga era mais uma extensão do seu cargo.
Chegando ao hospital, procurou o médico Antônio, o qual havia lhe atendido durante todos os dias que passara hospitalizado. Para sua sorte, ele estava livre e poderia atendê-lo imediatamente. Após retirar o gesso, pediu que ele fizesse alguns exames e fez algumas perguntas. Feito os exames solicitados, ficou aguardando, pois logo sairiam os resultados.
Enquanto ficara na casa de Marta, no início sofreu, tinha que adaptar-se a fazer tudo limitadamente. As dores de cabeça foram incomodas, mas, ao passar dos dias, foi diminuindo até que chegou um momento onde não sentia mais. Sempre se lembrava do susto passado, sentira medo naquela hora, imaginado algum daqueles entrando na casa de Marta e matando algum deles.
Antônio chegou à sala já analisando os exames, mas, por sua fisionomia, parecia tudo bem, sentou-se. Marta não conseguia sentar de tão nervosa e preocupada que estava, Pedro, tranquilo e confiante, permanecia quieto aguardando. Benedito preferiu ficar no estacionamento aguardando os dois.
- Bom Pedro, pelo que posso ver, tudo está muito bem. Seus ossos se recuperaram e continua não havendo nada em sua cabeça. – disse ainda analisava alguns papéis. – Você terá que fazer fisioterapia para fortalecê-los, por enquanto você terá de andar de muletas para não forçar e provocar danos.
Passadas todas as ordens e entregues todos os remédios necessários para a readaptação, os dois saíram do hospital e foram ao encontro de Benedito. Dali iriam à empresa, pois não poderiam deixá-la só e, há tanto tempo sem visitá-la, Pedro sentia saudade de sentar em sua cadeira, resolver todos os problemas.
Durante os dias que permaneceu engessado não saia para nenhum lugar, como precisava descansar, não ia nem trabalhar. Quando algum documento era urgente, da própria casa ele resolvia tudo, sempre com a ajuda da secretária que estava, vinte e quatro horas, ligada a ele. Mas durante esse tempo, ela evitava incomodá-lo.
Ainda com ajuda de Benedito e, agora, com as muletas, entrou na empresa. Os funcionários receberam-no com palmas, a cada local visitado eram mais palmas. Passou quase uma hora para chegar à sua sala, pois, onde visitava, todos vinham cumprimentá-lo e falarem o quanto estavam felizes em reencontrá-lo em tão bom estado.
Livre de todos, sentou e respirou fundo. Queria sentir o cheiro do trabalho, após tanto tempo longe, aquilo fazia-lhe falta. Marta, sendo uma secretária eficiente, já deixara todos os papéis necessários para serem analisados e/ou assinados, em cima da sua mesa. Pegou-os e, um por um, leu, analisando, relendo e assinando os que eram necessários. Tinha que ter muito cuidado ao assinar, há alguns anos teve problema por ler, rapidamente, um papel.
Andara por toda a empresa, mas não vira uma pessoa, Sônia. Onde será que ela estava? Pegou o telefone para falar com a secretária, precisava saber onde ela estava, ali era seu local de trabalho e não poderia estar faltando. Não sabia se estava preocupado por ela não ter aparecido como funcionária ou por não o ter recebido como na casa de Marta.
- Marta, onde está Sônia?
- Desculpe-me! Esqueci de avisar. Ela pediu para chegar um pouco atrasada, precisava resolver alguns problemas pessoas.
- Tudo bem. Quando ela chegar peça que venha à minha sala.
Com pouco mais de vinte minutos que tinha desligado o telefone, Sônia entrou em sua sala. Estava lindíssima, parecia desfilar vindo à sua presença. Ao sentar, jogou os cabelos para trás deixando Pedro constrangido por deixar tão notável seu interesse físico. Quando consegui se acalmar, falou:
- Estou precisando comprar o terreno que fica ao lado da empresa. Alguns meses antes de você entrar já tinha entrado em contato com o proprietário, mas não foi possível ir adiante. Preciso que você fale com ele e acerte todos os detalhes, desde o valor até a parte jurídica.
Em ambos os lados havia terrenos desocupados, em um só havia uma vegetação que, ao longo dos anos, espalhava-se e, se não tomasse cuidado, invadia a empresa. Do outro lado, no terreno, tinha um galpão abandonado onde, antigamente, funcionava uma empresa de tecidos. Pedro tinha interesse de comprar os dois e expandir sua empresa, mas no momento estava mais interessado no que não havia nada, pois custaria mais barato.
- Certo. Iria imediatamente resolver isso. Dê-me licença.
- Veja tudo dos dois terrenos, mas principalmente do que está vazio. Se você conseguir com o outro será muito bom.
- Certo.
Retirou-se da sala da mesma forma que entrara, como se estivesse desfilando. Pedro cada vez que via-a ficava mais apaixonado, teria que tomar uma iniciativa e acabar logo com toda aquela angústia. Sua beleza era encantadora. Até quando deitava para dormir, pensava nela e mesmo em seus sonhos, sonhava com aquela garota.

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